Entendendo Romanos

O ingresso na universidade marca para muitos jovens a transição da adolescência para o início da vida adulta. Esta mudança vem normalmente acompanhada de uma avalanche de sentimentos e questionamentos de todas as ordens. Em particular, a autenticidade da sua fé é colocada em cheque, mesmo tendo sido criado em um lar cristão, tendo sido aluno assíduo da Escola Dominical e tendo participado ativamente de um grupo de jovens. Novas perguntas surgem às quais ele precisa responder para se manter firme e para compartilhar o evangelho:

  • Como cristão, que resposta dar à visão budista a respeito de Deus?
  • O que pensar a respeito de personalidades cativantes que por acaso são ateus, promíscuos ou gays?
  • O que há de errado com uma 'espiritualidade' abstrata da qual muitos dizem ser adeptos?
  • Como demonstrar que existe uma verdade absoluta?

Na realidade, qualquer cristão, jovem ou mais "experiente", em qualquer contexto, passa, em maior ou menor grau, por questionamentos desta ordem. Lançados no caldeirão do pluralismo contemporâneo (tantas ideologias concorrentes!), nos debatemos para permanecer na superfície. Temos sérias dificuldades em defender e explicar a razão de muitas das nossas "convicções cristãs" em um mundo onde o debate de ideias parece não ter fim, pois "tudo é relativo". A maioria de nós convive diariamente com outras opções religiosas — na família, no trabalho, na escola, nos ajuntamentos sociais — e isso ocorre de uma maneira mais intensa do que ocorria no passado. E muitas das nossas conversas com pessoas de outras religiões simplesmente expõem, para a nossa vergonha, a compreensão superficial que temos da nossa própria fé.

Muitos cristãos se assentam nos bancos das igrejas para serem alimentados a colheradas a respeito de posições que devem adotar: "Você deve se posicionar contra o aborto! Deve acreditar que a prática homossexual é pecado e deve esperar para já a imunidade ao sofrimento e à frustração." Mas são poucos os que lançam as raízes suficientemente mais fundo na teologia cristã para saberem o porquê de serem instruídos desta ou daquela forma, e para poderem distinguir o que é genuinamente cristão (a questão do aborto e da prática homossexual) do que é o produto de uma interpretação deformada da Bíblia (a imunidade à dor).

Precisamos urgentemente de um solo firme para uma cosmovisão cristã. Precisamos aprender a pensar de forma cristã sobre tudo ao nosso redor. Se quisermos estar preparados para responder às diversas opções religiosas disponíveis, e quisermos viver uma vida cristã consistente, temos que fazê-lo a partir de uma perspectiva bíblica mais ampla respeito de Deus, do mundo e do ser humano. Para que a igreja tenha uma voz sensata e persuasiva na "batalha de ideias" de nossos dias, ela deve proclamar a interpretação bíblica da realidade de forma clara, amorosa e convincente.

O que Romanos tem a ver com isso? Muito. Pois Romanos é, ao final de contas, a respeito de cosmovisão — como enxergamos o mundo ao nosso redor. Embora seja cheio de "doutrina", não precisamos fugir do seu estudo como se fosse difícil e árido. Há sim trechos difíceis, mas o ensino da carta não é nem um pouco árido, entediante ou meramente "teórico". A carta nos mostra quem é realmente o ser humano e do que ele precisa, o que Deus fez para nos dar uma saída da nossa alienação e mortalidade, e que tipo de estilo de vida uma cosmovisão como esta produz. Romanos nos diz sobre como pensar a respeito do universo ao nosso redor.

A carta da Paulo aos Romanos é também um tipo de manifesto cristão, uma declaração da liberdade obtida através de Jesus Cristo. Romanos é a "mais completa, mais clara e mais grandiosa afirmação do evangelho do Novo Testamento" (Stott). A sua mensagem não é que o ser humano nasceu livre e foi sendo aprisionado ao longo da vida, mas sim que nasceu em pecado e escravidão, e Jesus veio para o libertar. Mas do que Cristo nos liberta? Da ira santa de Deus contra todo erro e injustiça, da alienação para alcançarmos a reconciliação. Ele nos liberta da condenação da lei de Deus, do "escuro e apertado calabouço do nosso próprio ego", do medo da morte, e um dia, nos libertará, da deterioração a que está sujeita a Criação para a gloriosa liberdade dos filhos de Deus. Enquanto isso aguardamos este dia, Deus nos liberta de conflitos étnicos na família de Deus, e nos liberta para que nos doemos a nós mesmos no serviço amoroso a Deus e aos outros.

É por isso que a Igreja de todas as gerações reconhece a importância de Romanos. Lutero dizia era esta era a "principal parte do Novo Testamento e ... verdadeiramente o evangelho no seu estado mais puro". "Todo cristão" — continuava ele — "deveria conhecer esta epístola palavra por palavra, de cor, mas também deveria ocupar-se com ela a cada dia como pão diário para a alma." Calvino declarou que "se obtivermos uma compreensão correta desta epístola, teremos uma porta aberta para todos os tesouros mais profundos das escrituras."

Romanos fala de um Deus que revela seu poder e graça através das boas novas sobre Jesus. E quanto mais meditamos no seu conteúdo, mais fascinante ele se torna para nós.

O Propósito de Paulo ao Escrever Romanos

Romanos está cheio de "teologia geral", sendo "uma afirmação sustentável e coerente do evangelho" (F. F. Bruce), "uma unidade teológica da qual nada substancial pode ser tirado sem que o todo seja desfigurado" (Prof. Cranfield), "a última vontade e testamento do apóstolo Paulo" (Bornkamm). Romanos, no entanto, (como todos os livros do Novo Testamento) foi escrito em um contexto preciso:

  • um contexto do próprio apóstolo Paulo;
  • um contexto dos seus primeiros leitores (a igreja de Roma);
  • e a uma combinação de ambos os contextos.

O contexto de Paulo

Paulo escreveu Romanos muito provavelmente de Corinto, durante os 3 meses que passou na Grécia (At 20:2ss, na sua 3a Viagem Missionária). Ele menciona três destinos aos quais ele tinha a intenção de ir (veja Figura 1):

  • Jerusalém (15:25ss) — para levar dinheiro que as igrejas gregas ajuntaram para cristãos em necessidade na Judeia;
  • Roma em si (1:11s; 15:23s) — tendo sido frustrado no passado, agora ele está confiante que conseguirá visitar Roma;
  • Espanha (15:20, 24 e 28) — para continuar o seu trabalho pioneiro de evangelização.

Figura 1. Jerusalém, Roma e Espanha

Figura 1. Jerusalém, Roma e Espanha

O seu propósito ao escrever a carta estava certamente relacionado a estes 3 destinos: Jerusalém, a Espanha e Roma no seu caminho de Jerusalém até a Espanha. Ele via Roma como um lugar de restaurar as forças depois de Jerusalém e como preparação para sua ida à Espanha.

As visitas que faria a Jerusalém e à Espanha tinham um significado especial para ele pois expressavam os seus dois principais compromissos: com o bem-estar de Israel (Jerusalém) e com a missão aos gentios (Espanha).

Paulo estava, no entanto, apreensivo a respeito da sua ida a Jerusalém por causa da importância que isso tinha para ele (a oferta como símbolo da solidariedade de judeus e gentios no corpo de Cristo) e por causa da resistência que sofria (alguns o consideravam liberal e traidor da herança de Israel). Assim, ele pede orações (15:30-31).

Seu destino final era a Espanha. Ele havia completado a evangelização da Galácia, Ásia, Macedônia e Acaia (15:19b) e agora desejava pregar o evangelho "onde Cristo ainda não havia sido anunciado" (15:20). Ele poderia, no entanto, ir à Espanha sem passar por Roma. Por que passar por lá?

Certamente porque sentiu a necessidade da comunhão com eles e da assistência da igreja de Roma para a sua viagem: encorajamento, suporte financeiro e orações. Paulo Queria que Roma fosse para o Mediterrâneo ocidental o que Antioquia foi para o oriental — uma base de operações do evangelho.

Por que Paulo lhes escreve? Para prepará-los para a sua visita. Muitos na igreja não o conheciam e ele queria estabelecer as suas credenciais apostólicas apresentando-lhes completamente o evangelho que pregava. Embora a sua preocupação central era o evangelho, ele também respondeu a questões dos seus leitores e rebateu críticas.

Assim, Paulo pede aos cristãos em Roma:

  • que orem para que o seu serviço em Jerusalém fosse aceito;
  • que o ajudem na sua jornada para a Espanha;
  • que o recebam durante a sua visita a Roma como apóstolo para os gentios.

A Situação dos Crentes em Roma

Roma já possuía uma igreja (muito possivelmente fundada por cristãos judeus que voltaram às suas casas após o Pentecoste em Jerusalém). Já bem no seu início, no entanto, vários não judeus também se converteram e começaram a integrar a igreja. Tudo mudou no ano 49 quando o imperador Cláudio, irritado com as dissenções entre os judeus por causa de ``Crestos'' (possivelmente as afirmações de Jesus de que era o Cristo), expulsou todos os judeus de roma. Cristãos judeus como Priscila e Áquila (cf. At 18:2) tiveram então que deixar a cidade e a igreja em Roma se tornou, da noite para o dia, composta de gentios apenas.

Quando Paulo escreve àquela igreja, os judeus já tinham recebido a autorização para voltar a Roma (incluindo Priscila e Áquila, cf. Rm 16:3). A igreja passou a ser composta então por uma misura de judeus e gentios (embora a maioria fosse de gentios, cf. 1:5ss, 13; 11:13). Esta mistura não era de todo pacífica. Havia um certo conflito teológico entre estes grupos. Os judeus em Roma viam o cristianismo simplesmente como parte do judaísmo e exigiam que todos observassem a lei judaica. Já os gentios eram adeptos de um ``evangelho sem a lei''. Os judeus acusavam Paulo de ser traidor da aliança e inimigo da lei (i.e., "antinominiano"). Os gentios desprezavam os judeus por ainda estarem desnecessariamente sob a escravidão da lei. Os judeus se orgulhavam de seu "status" e os gentios, da sua liberdade. Paulo fez questão colocar ambos em seus lugares.

Ecos desta controvérsia são encontrados na carta. E Paulo está sempre escrevendo no espírito de pacificar a situação preservando a verdade. Ele mesmo tinha um pé de cada lado. Sendo judeu, mas chamado para ser apóstolo dos gentios, ele tinha um posição única como agente de reconciliação dos dois grupos.

Neste ministério de reconciliação, ele desenvolve dois temas principais:

  • Justificação de pecadores pela graça somente (independentemente de status ou obras) — todos estão na mesma situação, o que produz unidade;
  • A redefinição de quem é o povo de Deus — aqueles que têm fé em Jesus (como filhos de Abraão).

Nesta continuidade com o Antigo Testamento, ele afirma a validade da aliança de Deus (que agora inclui gentios) e da lei de Deus (que, embora libertos dela como meio de salvação, pelo Espírito a cumprimos como sendo a revelação da santa vontade do Senhor).

Visão Geral da Carta

Ter uma "visão geral" dos temas e organização de Romanos nos ajudará a entender cada assunto abordado dentro do seu contexto. A estrutura da carta pode ser organizada da seguinte forma:

  1. Introdução (1:1-17)
  2. A ira de Deus (1:18-3:20)
  3. A graça de Deus (3:21-8:39)
  4. O plano de Deus (9-11)
  5. A vontade de Deus (12:1-15:13)

Introdução (1:1-17)

A introdução à carta, no capítulo 1, apresenta dois temas principais:

  • a integridade do evangelho confiado a Paulo (evangelho "de Deus" — 1:1-5); e
  • a solidariedade de judeus e gentios no povo de Deus (1:16 — "primeiro do judeu, mas também do grego")

Entre um tema e o outro, Paulo fala de seu relacionamento pessoal com seus leitores. Ele escreve a "todos os [que estão] em Roma...", independente da sua origem étnica (embora soubesse que a maioria era de gentios). Paulo dá graças por eles, ora por eles, e deseja encontrá-los (1:8-13). Ele se sente, de fato, na obrigação de pregar o evangelho na capital do mundo da época (1:14-17).

A Ira de Deus (1:18-3:20)

Por que é necessário falar da justiça de Deus no evangelho? Por causa da revelação da sua ira contra a injustiça (1:18). Esta ira de Deus não tem nada de caprichoso ou impulsivo da sua parte, mas é sim o seu antagonismo puro e perfeito contra o mal dirigido contra aqueles que deliberadamente suprimem o que sabem ser verdadeiro e certo para viver do seu próprio jeito.

Todos conhecem algo sobre Deus e sobre bondade:

  • pelo mundo criado (1:19ss);
  • pela sua consciência (1:32);
  • pela lei moral escrita nos corações humanos (2:12ss);
  • pela lei de Moisés dada aos judeus (2:17ss).

Assim, Paulo divide a sociedade humana em três grupos, a saber:

  • a sociedade pagã depravada (1:18-32);
  • os moralizadores críticos (tanto judeus como gentios) (2:1-16);
  • os judeus instruídos e autoconfiantes (2:17-3:8).

O objetivo do apóstolo é mostrar que "todos pecaram e carecem da glória de Deus", i.e., todos, sem exceção estão aquém do patamar de justiça exigido por Deus e conhecido por eles próprios. Todo ser humano é pecador, culpado e indisculpável diante de Deus.

A Graça de Deus (3:21-8:39)

A expressão "mas agora" (3:21) é uma das grandes adversativas da Bíblia. Ela representa a luz do evangelho brilhando sobre as trevas do pecado humano. A justificação do pecador no evangelho só é possível pela cruz de Cristo, através da qual Deus mostra a sua justiça (3:25ss) e seu amor (5:8).

No capítulo 4, Paulo argumenta que Abraão foi justificado pela fé, não por obras, nem por circuncisão, nem pela lei. Por isso, Abraão é pai de todo o que crê (independente de ser judeu ou gentio).

Então, no capítulo 5, ele fala das grandes bênçãos desfrutadas pelo povo justificado de Deus, a saber: temos paz com Deus, estamos imersos na graça, e nos alegramos na perspectiva de ver e compartilhar a sua glória. Nem mesmo o sofrimento abala nossa confiança — Deus já nos deu provas objetivas e subjetivas do seu amor e dele estamos seguros.

Duas comunidades humanas são então descritas. A primeira caracterizada pelo pecado e culpa — a velha humanidade em Adão. E a outra caracterizada pela graça e fé — a nova humanidade em Cristo. Um único ato de um único homem afetando um número enorme de pessoas para o mal (Adão) e para o bem (Cristo).

Paulo então diz que "a Lei foi introduzida para que a transgressão fosse ressaltada. Mas onde aumentou o pecado, transbordou a graça" (5:20). Isto, para ouvidos judeus, era chocante. Não estaria Paulo rejeitando a lei de Deus e encorajando o pecado? Ele responde a estas objeções nos capítulos 6 e 7.

Quem acha que quanto mais pecar, mais será alvo do perdão e graça de Deus, não entendeu o propósito da sua conversão. "Como podem viver naquilo para o qual morreram?" Estamos "mortos para o pecado e vivos para Deus". Longe de encorajar o pecado, a graça o proíbe.

Sobre a Lei, Romanos 7 nos diz que assim como morremos para o pecado, morremos também para a lei (i.e., estamos livres da sua condenação). Não estamos livres para pecar, mas para servir de um novo jeito, o jeito do Espírito.

Enquanto Romanos 7 é cheio de "lei", Romanos 8 é cheio do Espírito. O Espírito nos liberta, habita em nós, nos leva ao autocontrole, testemunha com o nosso espírito de que somos filhos de Deus, intercede por nós. Sendo filhos de Deus, somos também seus herdeiros.

No entanto, o sofrimento é o único caminho para a glória. Paulo então traça um paralelo entre o sofrimento e glória da criação e o sofrimento e glória do povo de Deus. Ambos aguardam ansiosamente e redenção final do universo, o que inclui nossos corpos.

No final do capítulo 8, a sublime confiança do cristão é celebrada — Deus agindo para o nosso bem. Somos fortalecidos com garantias do amor imutável de Deus, do qual nada jamais poderá nos separar.

O plano de Deus (9-11)

Tendo considerado esta mistura de etnias na igreja de Roma e as tensões entre judeus e gentios, Paulo, nos capítulo 9 a 11, trata do problema teológico subjacente. Por que o povo judeu como um todo rejeitou seu Messias? Como a sua descrença pode ser compatível com aliança e com as promessas de Deus? Como a inclusão dos gentios entra no plano de Deus?

Paulo inicia cada capítulo desta seção da carta de maneira bastante emocional demonstrando:

  • sua angústia a respeito da alienação dos judeus (9:1);
  • seu anseio de que sejam salvos (10:1);
  • o fato dele próprio continuar sendo judeu (11:1).

No capítulo 9, Paulo defende a lealdade de Deus à sua aliança dizendo que há um "Israel" dentro de "Israel", um remanescente, pois Deus sempre trabalhou de acordo com o propósito da sua eleição (9:11). Ele escolheu Isaque ao invés de Ismael, Jacó ao invés de Esaú, teve misericórdia de Moisés e endureceu o coração do faraó (9:14-18). Eleição é um tema difícil, mas temos que deixar Deus ser Deus ao decidir sobre fazer conhecido seu poder e misericórdia (9:22-23).

Esta eleição, no entanto, não é incompatível com a teimosia orgulhosa de Israel em não se submeter ao modo de salvação determinado por Deus, que envolve Cristo e a sua cruz. Este é o tema do capítulo 10.

Paulo fala de uma justiça que procede da lei e outra que procede da fé. Esta última está prontamente acessível a todos que o invocam (10:5-11). E nesse sentido não há diferença entre judeus e gentios, uma vez que o Senhor é Senhor de ambos e ricamente abençoa a ambos (10:12-13).

Mas para isso, evangelismo é necessário (10:14-15). Por que Israel não aceitou as boas novas do evangelho? Porque não o ouviram ou não entenderam. Por que não? Porque embora Deus esteja de braços abertos, eles eram "desobedientes e obstinados" (10:16-21). No capítulo 9, a descrença de Israel é atribuída ao propósito de eleição de Deus. Já no capítulo 10, é atribuída ao seu orgulho, ignorância e teimosia. Esta é a tensão misteriosa entre a soberania divina e a responsabilidade humana.

No capítulo 11, Paulo olha para o futuro. A queda de Israel não é nem total (há um remanescente) nem final (Deus não rejeitou Israel e eles se recuperarão). A mensagem é a de que se a queda de Israel trouxe a salvação aos gentios, quanto mais a salvação deles trará bênçãos ainda maiores.

A vontade de Deus (12:1-15:13)

Chamando os crentes em Roma de "irmãos", Paulo lhes faz um comovente apelo. Baseado nas "misericórdias de Deus" (das quais vinha falando), eles os chama para consagrar seus corpos e renovar suas mentes.

As alternativas são:

  • ou conformar-se ao padrão deste mundo; ou
  • ser transformado por mentes renovadas para discernir a "boa, agradável e perfeita vontade de Deus".

Ou a moda do mundo, ou a vontade de Deus — não é possível adotar ambas. E esta vontade de Deus tem a ver com relacionamentos radicalmente transformados pelo evangelho. Relacionamentos:

  • com Deus — buscar a sua vontade (12:2);
  • com nós mesmos — sóbrios na avaliação própria e dos nossos dons (tendo uma autoimagem realista) (12:3-8);
  • uns com os outros — a partir dos ministérios mútuos que exercemos por amor exibindo sinceridade, afeição, honra, paciência, hospitalidade, simpatia, harmonia e humildade (12:9-16);
  • com nossos inimigos — sendo toda forma de vingança pessoal proibida por ser prerrogativa de Deus — nosso papel sendo buscar ter paz com todos vencendo o mal com o bem (12:17-21);
  • com o governo — usado por Deus para ministrar a sua justiça e recompensar o bem (13:1-7);
  • com a lei — o amor ao próximo como o cumprimento da lei de Deus (13:8-10), não estando "sob a lei" no que diz respeito à nossa justificação, mas estando sob a obrigação de viver em diária obediência aos mandamentos de Deus;
  • com o último dia — a primazia do amor à medida em que o dia de Cristo voltar se aproxima e para o qual temos que estar acordados, em pé, vestidos e vivendo como quem pertence ao dia (13:11-14);
  • e com os "fracos" (na fé ou na convicção, e não na vontade ou no caráter) — principalmente judeus que criam dever observar as leis de alimentos e festas do calendário judeu, sendo estas coisas secundárias (14:1-15:13). Porém, a consciência do fraco não pode ser espezinhada. Paulo fundamenta suas instruções em sua cristologia, em particular na morte, ressurreição e volta de Cristo: os irmãos mais "fracos" são aqueles por quem também Cristo morreu; Cristo ressuscitou para ser Senhor deles; e Cristo está vindo para ser nosso juiz (então, não devemos nós brincar de ser juízes).

Na sua conclusão, Paulo descreve seu ministério como apóstolo aos gentios e a sua política de pregar Cristo onde ainda não é conhecido (15:14-22). Ele saúda 26 pessoas citados por nome (16:3-16): homens e mulheres, escravos e livres, judeus e gentios, celebrando a unidade na diversidade. Ele os adverte contra os falsos mestres (16:17-20), manda recados de 8 pessoas que estão com ele em Corinto (16:21-24).

Paulo termina a carta com uma doxologia. Ele termina onde começou, fazendo referência ao evangelho de Cristo, à comissão de Deus, à missão às nações e à obediência da fé.

Aplicação

  1. Se o estudo de Romanos foi transformador da vida de muitos, não poderia ser na nossa também? Temos que nos perguntar se realmente queremos progredir na vida cristã (i.e., no conhecimento de Deus e de sua vontade), ou se este é um desejo vago que não envolve esforço. Que preço você estaria disposto a pagar por isso?
  2. No contexto do apóstolo Paulo, vemos o seu amor por Cristo e sua igreja exalando por todos os poros. Ele não teme expressar a sua vulnerabilidade e humildade ao reconhecer que precisa da comunhão e do apoio daquela igreja. Vulnerabilidade não significa necessariamente perigo. Por que receamos expor nossas fraquezas e necessidades no contexto da igreja? De que forma podemos nos abrir mais uns aos outros?
  3. Quanto amamos o evangelho do Senhor Jesus e estamos comprometidos com ele? Você deseja de coração compartilhá-lo?
  4. Louve a Deus pela mensagem de Romanos. A graça de Deus nos traz uma grande segurança.
  5. A graça, no entanto, não estimula o pecado, mas sim o proíbe. Até que ponto a obediência a Deus é importante para você?