Paulo e os Romanos – Rm 1:7-13

(Texto em elaboração/revisão)

Motivação

Como professor universitário, estou envolvido com aulas mas também com pesquisa científica. Por esta razão, mesmo durante boa parte das férias escolares, quando não há aulas, nossas atividades não cessam. Neste período, o estacionamento da universidade fica mais vazio, não há filas para o almoço e podemos nos concentrar melhor na pesquisa quse sem interrupções. Brincamos entre nós, professores, dizendo que a universidade seria melhor se não houvesse os alunos! Bom, obviamente, os alunos é que fazem a universidade. Mas lidar com gente é frequentemente desgastante e dolorido...

O Dr. Paul David Tripp, professor de seminário de formação de pastores, conta que, em uma de suas aulas, estava abrindo o coração aos seus alunos a respeito de uma ocasião em que teve que visitar mais uma vez um homem que estava consumindo grande quantidade de seu tempo e energia. Quando um de seus alunos levantou a mão e perguntou: "Prof. Tripp, tudo bem, sabemos que encontraremos pessoas difíceis em nossas igrejas. Mas nos diga o que devemos fazer nestas circunstâncias para voltarmos rapidamente ao nosso ministério." (Tripp 2012). Tripp fica perplexo. Ele lamenta a visão de ministério daquele rapaz. Um ministério sem pessoas. "Podemos amar nossa teologia, nossa doutrina" — diz ele — "mas temos que amar pessoas". Há muitos nas igrejas que amam a verdade e não amam as pessoas. Destes devemos nos acautelar. Precisamos zelar pela verdade sim, mas sem nos deixar de lado o amor (cf. Ef 4:15).

Paulo é diferente. Ele se importava com as pessoas. Mesmo sem conhecer pessoalmente a maioria dos Romanos a quem escreve, ele dá graças por eles, ora por eles, deseja encontrar-se com eles, e compartilhar (dar e receber) do que tem. Para Paulo, o ministério era pessoal, relacional.

Paulo e os Romanos

Até o versículo 6, Paulo fala de si mesmo (servo e apóstolo) e do "seu" evangelho (cuja origem é Deus, que é atestado pelas Sagradas Escrituras, cujo conteúdo é Cristo, cujo alcance é todas as etnias e cujo propósito é a "obediência por fé" e a glória de Jesus). Agora (vs. 7 a 13), o apóstolo passa a se dirigir aos seus leitores em Roma.

Roma era a fonte da lei, o centro da civilização antiga, a Meca dos poetas, oradores e artistas. Neste mesmo lugar, havia pessoas compradas pelo sangue de Jesus e que pertenciam a Jesus e Paulo então diz que estes são:

  1. "amados de Deus" – seus próprios filhos e filhas. Escolhidos e amados quando eram inimigos (cf. 5:10). Todos os que pertencem a Cristo são amados de Deus. E não há nada que possamos fazer para Deus nos amar mais – ele já nos ama plenamente e provou isto na cruz, como Paulo nos dirá mais adiante (5:8). Estar certo do amor dos pais é essencial para o crescimento emocional saudável de uma criança. Ter convicção do amor do cônjuge, dos amigos é algo profundamente benéfico para alma. Estar certo do amor de Deus traz bênçãos ainda maiores.

  2. "chamados para serem santos" (assim como para "pertencer a Cristo" – v. 6). O termo "santos" ou "povo santo" era, no Antigo Testamento, uma designação comum para Israel. Aqui, no entanto, Paulo aplica também aos gentios cristãos de Roma. A implicação disso é que todo cristão, sem exceção, é chamado por Deus para pertencer a Cristo e ao seu povo santo.

  3. destinatários da "graça e paz" de Deus. A bênção aaraônica do Antigo Testamento roga a Deus que Ele seja gracioso e dê paz. Estas duas bênçãos – graça e paz – correspondem aos assuntos da sua carta. "Graça" que é a gratuita justificação dos pecadores. "Paz" na reconciliação de judeus e gentios no corpo de Cristo.

Estes três termos – "amados", "chamados" e "santos" – eram todos empregados no Antigo Testamento para Israel. Paulo faz questão aqui de aplicá-los indistintamente a judeus e a gentios como pertencentes agora ao povo da aliança de Deus.

Paulo abre o seu coração

Diante desta visão elevada que Paulo tem da igreja de Cristo, ele em seguida abre o seu coração.

Paulo louva a Deus por todos eles (v. 8)

A notícia de que havia cristãos na capital também se espalhou por todo lugar onde havia cristãos. Embora Paulo não tivesse sido diretamente responsável por levar o evangelho para eles, isto não o impediu de dar graças a Deus pelo fato de Roma ter sido evangelizada.

Paulo ora por eles (v. 9)

Para Paulo, pregação e oração andavam juntas. Embora não conhecesse pessoalmente a maioria dos cristãos de Roma, Paulo intercede por eles "constantemente", "sempre" ou "incessantemente" (9). E isto não é mera expressão de efeito: ele chama Deus por testemunha disso.Especificamente, ele ora para que finalmente, pela vontade de Deus, o caminho seja aberto para que ele vá a Roma (10b).

É digna de nota a humildade do apóstolo e a sua submissão a Deus. Ele não impõe sua vontade a Deus nem alega conhecer o que seria a vontade do Senhor. Ele submete sua vontade à de Deus, confia na sua resposta seja ela qual for. Há uma humildade inerente à verdadeira oração.

Paulo deseja encontrar-se com eles e lhes diz porque (11-13)

A primeira razão para encontrá-los é para "compartilhar algum dom (i.e., 'carisma') espiritual e fortalecê-los" (v. 11). Mas o que vem a ser este "dom espiritual" que Paulo deseja compartilhar? Seriam dons listados em 1 Co 12, Rm 12 e Ef 4? Provavelmente não se trata destes, uma vez que nestas passagens os dons são dados pela decisão soberana de Deus (Rm 12:6), de Cristo (Ef 4:11) e do Espírito (1 Co 12:11) (aliás, a rigor, não são apenas "dons do Espírito"!). Desta forma, dificilmente Paulo alegaria "compartilhar" ele mesmo um dom desta natureza.

Mais provavelmente, Paulo tinha em mente um sentido mais genérico para a palavra "dom" que ele emprega. Talvez uma referência a seu próprio ensino ou exortação, muito embora pareça haver uma "indefinição intencional" na sua forma de expressar, talvez porque ele ainda não sabia exatamente quais eram as necessidade espirituais específicas dos Romanos.

No versículo 12, o apóstolo imediatamente acrescenta que não apenas poderia dar, mas que também esperava receber, em um aparente desconforto da ideia de um compartilhar unidirecional. Paulo sabe sobre as bênçãos recíprocas da comunhão cristã. Mesmo sendo apóstolo, ele reconhece que precisa também receber. Há algo de especial no estudo bíblico em conjunto. Há aspectos do próprio amor de Deus que só podem ser compreendidos "com todos os santos" (i.e., no contexto comunitário, cf.* Ef 4:18-19).

Feliz o missionário que vai a outro país ou cultura neste mesmo espírito receptivo, ansioso para receber tanto quando para dar, para aprender tanto quanto para ensinar, para ser encorajado tanto quanto para encorajar. E feliz a congregação cuja liderança tem o mesmo espírito humilde.

Paulo já havia planejado visitá-los

No verso 13a, Paulo diz: "quero que vocês saibam que muitas vezes planejei visitá-los, mas fui impedido até agora." Mas o que foi que o impediu? Isto não nos é dito aqui, mas podemos supor (por causa daquilo que foi mencionado em 15:22ss) que a razão do seu impedimento se devia ao fato de que o seu trabalho missionário na Grécia e arredores ainda não tinha sido completado.

E por que Paulo ele tentou visitá-los? "Para colher algum fruto entre vocês" (13b). O que isto quer dizer? Paulo anseia ganhar para Cristo alguns mais em Roma ("como tem acontecido entre os demais gentios" – 13b).

Aplicação

  • Você sabe apresentar o evangelho de forma clara e objetiva?
  • Como andam seus "relacionamentos humanos" na Igreja? Você louva, ora, participa e deseja estar em contato uns com os outros na sua comunidade por amor a Deus e a seus filhos e filhas? Você é o que é ou tenta causar uma melhor impressão que não corresponde à realidade?
  • Às vezes, especialmente diante das adversidades, temos dificuldade em crer no amor de Deus. Você crê de fato que Deus te ama? Você vive como se ele de fato te amasse? Ore para que o Espírito Santo exerça na sua vida com mais intensidade o seu ministério de "derramar o amor de Deus" em seu coração (Rm 5:5).

Bibliografia

[1] D. Tripp, "The Radical Calling"
[2] J. Stott, "A Mensagem de Romanos"