Paulo e o Evangelho
Os seis primeiros versículos da carta aos romanos apresenta informações importantes. Neles Paulo: a) identifica-se como escravo e apostolo; b) esclarece que foi separado para o evangelho de Deus; c) explica que Jesus, como homem, é descendente de Davi; d) enfatiza a centralidade da ressurreição; reconhece que Jesus é nosso Senhor; e) ensina que, por isso, devemos obedecê-lo por meio da fé; f) também, especifica que seu apostolado tem por objetivo alcançar as nações; g) registra que somos chamados para pertencer a Cristo. Em seguida, observaremos, de forma um pouco mais detalhada, cada um destes pontos.
Escravo e apóstolo
Já nas primeiras palavras, a epístola aos romanos traz preciosos ensinamentos. A começar pela forma como Paulo apresenta-se. Observe suas palavras inicias: "Paulo, servo [doulos] de Jesus Cristo, chamado para ser apóstolo [apostolos]" (cf. Rm 1:1a). Com estes dizeres, Paulo deixa claro que antes de ser apóstolo, ou seja, um emissário, é servo de Jesus Cristo. Seu status social, portanto, é de um servo, ou melhor, escravo, que seria uma melhor tradução da palavra grega doulos para o português. Sendo assim, é a partir desta condição que ele exerce a função de apóstolo, para ele o apostolado representa uma função, não uma posição hierárquica que lhe concede um título, embora tal função o torne um representante muito especial.
Segundo James S. Jeffers, o fato de Paulo apresentar-se aos romanos como escravo representava algo significativo, uma vez que diversos membros da burocracia imperial romana eram escravos e se orgulhavam disso, ao ponto de, ao morrerem, deixarem registrado em suas lápides os dizeres escravos de César (Jeffers, 1991, p. Pos. 207). De acordo com a referência de Strong, a palavra doulos, traduzida comumente como escravo, significa subserviência, sujeição, e pode ser utilizada em sentido literal ou figurativo, em contextos de servidão voluntária ou involuntária4. De acordo com o Bridgeway Bible Dictionary (Fleming, 2004), o termo servo pode sugerir distinção de classes, mas esta questão não fica clara ao analisar-se as linguas originais. Neste caso, o contexto pode determinar se alguém é servo com relação ao seu Senhor ou ao trabalho que realiza.
Além de servo, Paulo é também um apóstolo. Segundo John Stott, "[…] ao pensarmos no encontro de Paulo com Cristo na estrada para Damasco, devêmos vê-lo não apenas como sua conversão, mas como seu envio para ser apóstolo (egó apostelló se, 'Eu te envio', 'Eu te faço um apóstolo') e, especialmente, para ser o apóstolo dos gentios" (Stott, 2000, p. 48). Para Stott, apóstolo era um título especial e de grande autoridade, utilizado desde o princípio num contexto especificamente cristão, "reservado para os doze e Paulo, e quem sabe mais um ou dois, como Tiago" (Stott, 2000, p. 47). Não há dúvida de que o apostolado exercido por Paulo é especial na medida em que ele foi comissionado pessoalmente pelo próprio Jesus, entretanto, num sentido geral, o termo é utilizado pelo próprio Paulo ao se referir a irmãos da Igreja da Macedônia, cujos nomes não são especificados no texto. Vamos observar um trecho da carta da primeira carta de Paulo à igreja de Conrinto:
Agradecemos a Deus por ter colocado no coração de Tito a mesma dedicação por vós; pois Tito não apenas aceitou a nossa solicitação, mas já partiu para vos visitar, com muito entusiasmo e por iniciativa própria. E juntamente com ele estamos enviando o irmão, que é recomendado por todas as igrejas por seu serviço no evangelho. E não apenas por esse motivo, mas ele também foi escolhido pelas igrejas para ser nosso companheiro de viagem, enquanto ministramos essa graça para a glória do Senhor e para demonstrar nossa boa vontade. O nosso cuidado é evitar que alguém nos acuse em relação ao modo de administrar essa generosa oferta, pois estamos empregando todo o zelo necessário para fazer o que é correto, não somente ao olhos do Senhor, mas também perante aos olhos dos homens. Além de tudo, estamos enviando com eles o nosso irmão que, muitas vezes e de várias maneiras, já nos provou ser zeloso, e agora ainda mais dedicado, por causa da grande confiança que ele tem em vós. Quanto a Tito, ele é meu companheiro e cooperador para convosco; quanto a nossos irmãos, eles são apóstolos das igrejas e glória para Cristo. Portanto, diante das demais igrejas, manifestai a esses irmãos a prova do amor que tendes e a razão do orgulho que temos de vós (Cf. 1 Co 8:16-24).
De acordo com o texto, Paulo envia Tito juntamente com dois irmãos das igrejas da Macedônia com o objetivo de administrar ofertadas coletadas. Para que possamos compreender melhor o significado do termo apóstolo, será necessário o estudo de duas palavras gregas, apostolos, que significa enviado, e apostello, enviar - enquanto esta é um verbo, aquela é um adjetivo.
O termo apostello é utilizado em diversos contextos. No livro de Apocalipse, jesus envia (apostellos) sua mensagem através de um mensageiro a João. Em Apocalipse 1:1 está registrado: "Revelação de Jesus Cristo, que Deus lhe concedeu para mostrar a seus servos os acontecimentos que em breve devem se realizar, e que Ele, por intermédio do seu anjo, expressou (apostellos) ao seu servo João […]". O mesmo termo é utilizado em Apocalipse 22:6. De acordo com Apocalipse 5:6, "Nisso, aconteceu que reparei, no meio do trono e dos quatro seres viventes e entre os anciãos, em pé, um Cordeiro que parecia estar morto, e tinha sete chifres e sete olhos, que são os sete espíritos de Deus enviados (apostello) a toda a terra". Em Lucas 24:49, Jesus enviou o Espírito Santo, prometido pelo Pai, aos discípulos, conforme o texto: "Eis que Eu sobre vós envio (apostellos) a promessa de meu Pai; contudo, permanecei na cidade, até que sejais revestidos do poder do alto!”.
Em Marcos, no capítulo 5, encontramos o termo apostellos sendo utilizado até mesmo por uma legião de demônios, que rogaram a Jesus para não serem enviados para fora da região dos gerasenos. Veja o texto:
E assim, atravessaram o mar e foram para a região dos gerasenos. Logo que Jesus desceu do barco, veio dos sepulcros, caminhando ao seu encontro, um homem possuído por um espírito imundo. Esse homem vivia em meio aos sepulcros e não havia quem conseguisse dominá-lo, nem mesmo com correntes. Muitas vezes já haviam acorrentado seus pés e mãos, mas ele arrebentava os grilhões e estraçalhava algemas e correntes. Ninguém tinha força para detê-lo. E, noite e dia, sem repouso, perambulava por entre os sepulcros e pelas colinas, gritando e cortando-se com lascas de rocha. Ao avistar Jesus, ainda de longe, correu e atirou-se aos seus pés. E clamou aos berros: “Que queres de mim, Jesus, Filho do Deus Altíssimo? Suplico-te por Deus que não me atormentes!” Pois Jesus já lhe havia ordenado: “Sai deste homem, espírito imundo!” Todavia, Jesus o interrogou: “Qual é o teu nome?” Respondeu ele: “Meu nome é Legião, porque somos muitos”. E implorava insistentemente para que Jesus não os mandasse (apostellos) para fora daquela região. Enquanto isso, perto dali, numa colina vizinha, uma grande manada de porcos estava pastando. Foi então que os demônios rogaram a Jesus: “Manda-nos para os porcos, para que entremos neles”. E Jesus lhes deu permissão, e os espíritos imundos deixaram o homem e entraram nos porcos. E a manada com cerca de dois mil porcos atirou-se precipício abaixo, em direção ao mar, e nele se afogaram (Cf. Mc. 5:1-13).
De acordo com o evangelho joanino, João Batista havia sido enviado por Deus: "Houve um homem enviado (apostello) de Deus, cujo nome era João." (Cf. João 1:6). Em Atos 7:35, lê-se: "Este é o mesmo Moisés a quem eles haviam rejeitado com estas palavras: ‘Quem te constituiu autoridade e juiz?’, Deus o enviou (apostellos) como líder e libertador, pela mão do anjo que lhe apareceu no espinheiro." Ou seja, Moisés foi enviado (apostellos) por Deus para libertar o povo do cativeiro. Há também uma passagem em Marcos 6:27 que registra: "[O Rei Herodes] Mandou (apostello), portanto, imediatamente um carrasco com ordens para trazer a cabeça de João. O executor (spekoulatōr) foi e decapitou João na prisão".
Por fim, no contexto específico da carta de Paulo aos Romanos, no capítulo 10, verso 15, lê-se: "E como pregarão, se não forem enviados (apostello)? Como está escrito: 'Como são maravilhosos os pés dos que anunciam boas novas!' Israel não tem como se escusar.".
Portanto, num sentido geral, apostellos significa ser enviado por meio de uma autoridade com um propósito específico. Neste caso, será que em alguma medida o sentido deste termo não se assemelha ao da palavra missionário, na forma como o utilizamos atualmente?
Quanto ao termo apostolos, a Cyclopedia of Biblical Literature, McClintock & Strong, apresenta uma nota (Cf. referência à palavra apóstolo) digna de menção:
Em grego ático, o termo é usado para designar uma frota ou armamento naval. Ele ocorre apenas uma vez na Septuaginta (1 Reis 14: 6); ali, e uniformemente no Novo Testamento, significa uma pessoa enviada por outro, um mensageiro. Tem sido afirmado que os judeus estavam acostumados a chamar o coletor do meio shekel, quantia que cada israelita paga anualmente ao Templo, de apóstolo; e temos mais autoridade para afirmar que eles usaram a palavra para designar aqueles que transportavam cartas encíclicas de seus governantes. Œcumenius afirma que havia até mesmo um costume entre os judeus de chamar aqueles que carregavam cartas circulares de seus governantes pelo nome de apóstolos. Talvez Paulo tenha supostamente referido-se a isso (Gálatas 1: 1), quando ele afirma que era "um apóstolo, não dos homens, nem por homens" - um apóstolo não como aqueles conhecidos entre os judeus por esse nome, que deriva sua autoridade e recebeu sua missão dos principais dos sacerdotes ou homens importantes da sua nação. Neste sentido, o significado da palavra é fortemente apresentado em João 13:16, onde ocorre junto com seu correlato, "O servo não é maior do que seu senhor, nem o que é enviado (ἀπόστολό) maior do que aquele que o enviou." (tradução nossa).
De acordo com a referência de Thayer, palavra apóstolo também pode significar consules enviados com um exército, ou seja, uma expedição - referência encontrada em uma obra do historiador grego Polybio (200-118 a.C.). De acordo com uma antiga referência, registrada em português arcaico:
Os judeus davam o nome de apostolo ao funccionario encarregado de cobrar o tributo que se devia ao patriarcha. Anteriormente á vinda de Jesus Christo, davam tambem este nome aos cobradores que recebiam o meio siclo que os israelitas deviam ao tabernaculo; e posteriormente á resurreição de Jesus, davam-no aos missionarios que enviavam de uma para outra parte a fim de impugnar a doutrina dos santos apostolos e calumnial-os (sic) Deve-se notar que S. Paulo ia desmepenhar uma missão similhante em Damasco quando foi convertido á fé; e que, por consequencia, fôra apostolo de Caiphás antes de ser apostolo de Jesus (Irmão, 1866, p. 180).
De acordo com o The Bible Knowledge Background Commentary:
Para Paulo, o apostolado estava enraizado mais no fato de que o Cristo ressuscitado havia aparecido para ele (1 Co. 9: 1; 15: 7-9) do que em cartas de autorização de outros na igreja. A autorização do seu apostolado não era a congregação, mas Deus, como podemos ver em seu "pela vontade de Deus" (ver também Gl. 1: 1). Seu chamado como apóstolo veio de Deus ("chamado apóstolo"). Provavelmente é isto que está por trás da noção do apostolado de Andrônico e Júnias, em Rm. 16: 7, mas isto não é certo. Heródoto usou o termo apóstolo como um enviado e esta noção é que provavelmente está por de trás da utilização do termo pela igreja. Heródoto (485 a.C.) escreve: "Quando a resposta Délfica foi trazida para Alyattes, logo mandou um arauto a Mileto, oferecendo-se para fazer uma trégua com Thrasybulus e os Milesianos, durante a sua construção do templo. Então o enviado [grego = apostolos] foi para Mileto "(Heródoto, Guerras Persas 1,21, LCL). Da mesma forma, ele escreve: "Aristagoras de Mileto ... mandou tudo para configurar governadores em cada cidade, em seguida ele foi como embaixada [grego = apostolos] em um trireme [= uma embarcação com três fileiras de remo] para Lacedaemon, pois era necessário que ele encontrasse algum forte aliado" (Guerras Persas 5,38, LCL). Mais contemporâneo aos tempos do Novo Testamento é Epicteto (54-68 A.D.), que usa a forma verbal de apostolos: a saber, apostello, para descrever como um "verdadeiro Cínico" deve saber que foi enviado [grego = apestaltai] "por Zeus aos homens" (Epicteto, Discursos 3,22-23), LCL) (Evans, Combes, & Gurtner, 2004, p. 256 , tradução nossa).
Há também uma citação do orador grego Lísias (459-380 a.C.), em sua obra Sobre a Propriedade de Aristófanes - capítulo 19, parágrafo 21, onde lê-se:
Em seguida, quando os enviados chegaram de Chipre, para adquirir a nossa assistência, sua energia ardente não conhecia limites. Você lhes havia concedido dez navios de guerra, e tinham votado todo o material, mas eles estavam precisando de dinheiro para o envio [apostolos] da frota. Eles haviam trazido apenas fundos escassos com eles, e eles exigiram muito mais: para eles tiveram que contratar não apenas só homens para trabalhar nos navios, mas também para a infantaria leve e compra de armas (Lísias, 1930 , tradução nossa).
Percebemos, portanto, que o termo apostolos, bem como apostellos, possui uma carga semântica variada. De qualquer forma, cientes de que um tratamento adequado e exaustivo desta temática é praticamente impossível em poucas linhas, nosso objetivo consistiu apenas em apresentar mais informações que possam contribuir em futuras discussões. Todavia, parece-nos certo considerar que a autoridade de um apóstolo estava necessariamente vinculada à daquele que o enviou, o que, mais uma vez, concede a Paulo, na qualidade de enviado pessoalmente por Jesus, uma representatividade muito especial, ele não auto comissionou-se nem foi enviado por homens. Foi, assim, enviado por Jesus aos gentios.
Separado para o Evangelho de Deus
O Objetivo de Paulo era o de pregar o Evangelho de Deus. Primeiramente, ele deixa claro que o evangelho que ele está anunciando não é de origem humana, não apresenta algo elaborado de acordo com os interesses de alguma instituição terrena, mas é de origem divina. Segundo John Stott, "o que nós temos a repartir com outros não é, nem uma miscelânea de especulações humanas, nem mais uma religião a ser adicionada ao que já existe - aliás, nem se trata de uma religião. É o evangelho de Deus, a boa nova do próprio Deus para um mundo perdido" (Stott, 2000, p. 48). Trata-se da revelação de Deus para a salvação não apenas da humanidade, mas de todo o universo.
Neste sentido, Paulo pretende anunciar exatamente o mesmo evangelho que Jesus pregava em todos os lugares. Segundo o evangelho de Mateus: "E percorria Jesus toda a Galiléia, ensinando nas sinagogas, pregando o evangelho do Reino e curando todas as enfermidades e males entre o povo" (Cf. Mt 4:23). Mais adiante, em outra passagem, está registrado: "E este evangelho do Reino será pregado em todo o mundo habitado, como testemunho a todas as nações, e então chegará o fim" (Cf. Mt 24:14).
Hoje em dia, durante ações evangelisticas, é muito comum os Cristãos comunicarem àqueles que estão fora da Igreja: "Jesus tem um plano para sua vida!", ou, ainda, "Jesus te ama e quer te salvar!". Estas mensagens estão corretas, mas elas não comunicam o Evangelho do Reino de Deus em sua totalidade. Para que possamos realizar uma comunicação plena do Evangelho, é muito importante compreendermos que a revelação Bíblica se fundamenta em quatro grandes temas que fornecem a perspectiva correta para sua interpretação: a) Criação; b) Queda; c) Redenção; d) Consumação. Tudo que está registrado nas Escrituras relaciona-se com estes temas, devemos, então, aprender a estudar a Bíblia identificando-os, só assim conseguiremos compreender corretamente a base que fundamenta o Evangelho do Reino de Deus. Por Criação, compreendemos que o universo e tudo o que nele há foi criado por Deus de forma perfeita. Com a Queda temporal da humanidade no pecado, através de Adão, gerou como consequência a corrupção não apenas do homem, mas de todo o universo criado. Neste sentido, homem e mulher não apenas perdem a comunhão com Deus, mas, também, consigo mesmos, com os outros, com a própria criação, enfim, todos os relacionamentos são comprometidos, assim, amorte física, inclusive, passa a fazer parte do universo. Quando Jesus derrama seu sangue na cruz, ele está reconciando novamente consigo todas as coisas, todas, estejam elas no céus ou na terra (Cf. Cl 1:15-23). Esta reconciliação é chamada de Redenção. Todavia, o fado de Jesus ter realizado uma obra que efetivamente redimiu, ou seja, resgatou, libertou, o ser humano e todas as coisas, não significa que tudo tenha sido restaurado, de maneira que tudo volte a ser com era no princípio. Por isso, aguardamos a Consumação, que acontecerá juntamente com segunda vinda de Jesus, quando, finalmente, a humanidade será julgada, os que aceitaram de antemão a Jesus serão salvos e haverá Novos Céus e Nova Terra, onde habita a justiça (Cf. 2 Pe 3:13). Vivemos, assim, neste entretempo, no qual já podemos desfrutar da graça que Jesus concede aos que o aceitam, que é capaz de gerar mudanças significativas em nós, e carregamos a responsabilidade de comunicar o Evangelho do Reino de Deus.
Neste sentido, vale a pena observamos a maneira com que Paulo comuniva este Evangelho do Reino. Certamente, quando ensinava nas sinagogas, ele laçava mão do conhecimento que possuía das Escrituras e demonstrava que como Jesus era o cumprimento da Palavra revelada pelos profetas. Mas, quando ele pregava aos gentios, ele utilizava uma técnica diferente! Habilmente, ele procurava conhecer a cultura com a qual procurava comunicar-se, de modo que pudesse contextualizar a mensagem da melhor forma possível. Vejamos um exemplo de quando ele esteve na cidade de Atenas, na Grécia (At 17.16-34). Inicialmente ele deu uma volta pela cidade observando com muita atenção aspectos da cultura local. Deste modo, ele procurou conhecer quais ideias, teorias, valores, da sociedade ateniense. Em seguida, o livro de Atos relata que todos os dias, Paulo discutia na sinagoga e na Praça Principal, que era um local utilizado para discussões filosóficas e políticas. Significa, que ele sabia dialogar com crentes e pagãos, contextualizando para os dias atuais, podemos dizer que ele sabia conversar com quem estava dentro e fora da Igreja, com crentes e filósofos. Por causa da maneira com que abordava o povo, e pelo interesse despertado ao ouvirem as Boas Novas, ele foi convidado para falar em uma reunião do Areópago, que era um centro utilizado para a discussão de questões públicas. O discurso realizado ali mostra-nos que ele: a) demonstrou conhecimento acerca da cultura e da religião dos gregos (At 17.22); b) encontrou uma ‘porta de entrada’ para apresentar o Deus verdadeiro a partir de elementos da própria cultura local (At 17.23), que certamente exigiu dele uma investigação minuciosa do sistema religioso ateniense; c) apresentou Deus como o Verdadeiro e Único Criador (At 17.24-5); d) ensinou sobre a Origem de todos os povos da terra a partir de Adão e Eva, restabelecendo o caráter histórico do relato da Criação, da forma como está registrado em Gênesis, lançando bases para o combate a ideia de raças humanas distintas e combatendo, portanto, qualquer forma de racismo ou xenofobia (At 17.26); e) estudou e discerniu elementos verdadeiros presentes na cultura grega, em seu discurso ele inclui duas citações de poetas gregos5 afirmando que estavam em concordância com a perspectiva das Escrituras, com efeito, o apóstolo nos mostra que é possível encontrar verdades em pensadores pagãos (At 17.28). Com isto Paulo nos ensina que podem existir alguns elos de conexão entre o conhecimento cristão e o pagão, que podem tanto nos ensinar. Claro, desde que devidamente criticados segundo uma perspectiva bíblica. Com esta estratégia, é possível econtrarmos ‘portas de diálogo’ com os descrentes, que de outro modo tornaria a comunicabilidade muito difícil; f) chamou ao arrependimento, um povo dotado de um sistema cultural totalmente diferente do seu, mostrando-nos que a Verdade de Deus é relevante para toda e qualquer cultura, em todo e qualquer tempo (At 17.29); g) falou sobre o julgamento de Deus e ofereceu a possibilidade da Redenção em Cristo Jesus com base em provas visíveis, empíricas, a ressurreição dos mortos (At 17.30-1).
Observemos agora, com um pouco mais de cuidado, a maneira como Paulo citou os poetas gregos em seu discurso, segundo o teólogo Roy B. Zuck:
"Pois nele vivemos, nos movemos e existimos" (Atos 17:28a) pertence a Epimênides, um poeta cretense do sexto século, em seu Cretica. Com esta citação Paulo acrescentou apoio lógico ao ponto apresentado em sua sentença anterior (17:27) de que embora Deus é o Criador transcendente (17:24-26) [ou seja, ele é maior, está acima e se distingue de sua criação] ele também é iminente e portanto, não "longe de cada um de nós". "Somos descendência dele" (Atos 17:28b) vem do poeta Aratus (315-240 B.C.) em seu Phaenomena, e também de Cleanthes (331-233 B.C.) no seu Hino a Zeus. Paulo citou esta sentença de modo a estabelecer uma conclusão lógica a seguir (17:29) de que Deus não é feito segundo a imagem do Homem. O Homem é feito por Deus, não Deus pelo Homem! Ao citar estes escritos conhecidos e apreciados pelos atenienses e com os quais eles concordavam. Paulo habilmente levou seus ouvintes na Colina de Marte [onde estava o Areópago] a aceitar suas próprias afirmações mais facilmente. Claro que, ele não estava endossando tudo o que estes poetas gregos escreveram; ele simplesmente selecionou estas sentenças de seus próprios escritos porque o que elas afirmam, sendo bem conhecidas por sua audiência, foram úteis a seu sermão (Zuck, 1998, p. 261, grifo nosso, tradução nossa).
Através destes exemplos, fica claro que precisamos assumir uma postura mais crítica e inteligente acerca da cultura e do conhecimento que nos rodeia. Principalmente no tempo em que vivemos hoje, em uma sociedade secularizada, pou melhor pós-cristã, em que as pessoas correm por todo o lado em busca de conhecimento (Cf. Dn 12:4) e são arrastadas por inúmeras filosofias vãs.
É com toda esta inteligência e propriedade que Paulo anuncia o Evangelho do Reino de Deus aos habitantes de Roma. De que maneira voc6e tem anunciado o Evangelho? Qual estratégia você utiliza?
Jesus, como homem, descendente de Davi
Paulo apresenta Jesus como homem e divindade ao mesmo tempo. No que tange a humanidade de Jesus, é importante observarmos que o Antigo Testamento, por meio dos profetas, é repleto de promessas que se cumprem em Cristo Jesus. Neste sentido, Jesus não é uma figura que surge do nada, muito pelo contrário, ele foi prometido e aguardado por séculos. Segundo Stott, "O próprio Jesus deixou muito claro que as Escrituras testificavam dele, que ele era o filho do homem do qual falava Faniel 7 e o servo sofredor referido em Isaías 53, e que, conforme estava escrito, ele tinha de sofrer para entrar em sua glória" (Stott, 2000, p. 49). Outro ponto muito importante, principalmente para o povo Judeu, Jesus fazia parte da linhagem do Rei Davi, era seu descendente. Por este motivo, um registro com a genealogia de Jesus é apresentado logo no primeiro capítulo do evangelho de Mateus.
A Centralidade da Ressurreição
Ao escrever para uma sociedade extremamente idólatra e superticiosa, que adorava imagens de homens e mulheres, que em certos casos cultuava até mesmo animais, na qual o imperador se autodenominava deus, não seria Jesus apenas mais uma divindade? Não podemos nos esquecer que a maioria dos gentios sequer conhecia a história do povo de Israel, neste caso, eram desconhecidas todas as profecias que anuciavam a chegada do Messias, Jesus. Portanto, logo no início da carta, Paulo explica que Jesus "foi designado Filho de Deus com poder, segundo o espírito de santidade pela ressurreição dos mortos" (Cf. Rm 1:4). Observe que Paulo não apresenta uma especulação, mas um testemunho baseado em evidências históricas, a ressurreição de Cristo. Isto torna Jesus diferente de todas as supostas divindades cultuadas pelos romanos.
A historicidade da ressurreição é extremamente cara para Paulo, e não poderia ser diferente para nós. Segundo a primeira carta que ele escreve à igreja de Conrinto: "E, se Cristo não ressuscitou, é vã a vossa fé, e ainda permaneceis nos vossos pecados. E ainda mais: os que dormiram em Cristo pereceram. Se a nossa esperança em Cristo se limita apenas a esta vida, somos os mais infelizes de todos os homens" (Cf. 1 Co 15:17-8). Ora, se a ressurreição de Cristo fosse uma falácia, o evangelho não faria sentido algum. Mas, este evento histórico permanece registrado na história do universo. Jesus não é uma divindade qualquer, é o Filho de Deus.
No final do evangelho de Lucas a um relato impressionante acerca da realidade física da ressurreição:
E aconteceu que, estando ainda conversando sobre esses fatos, o próprio Jesus apareceu entre eles e lhes saudou: “Paz seja convosco!” Eles ficaram atônitos e aterrorizados, pensando que estivessem vendo um espírito. Todavia, Ele lhes exortou: “Por que estais apavorados? E por qual motivo sobem dúvidas ao vosso coração? Observai as minhas mãos e meus pés e vede que Eu Sou o mesmo! Tocai-me e comprovai o que vos afirmo. Por que um espírito não tem carne nem ossos, como percebeis que Eu tenho. E havendo dito isto, passou a mostrar-lhes as mãos e os pés. E tão repletos de alegria e surpresa estavam, que não conseguiam acreditar no que viam. Por isso, Jesus lhes pediu: “Tendes aqui algo para comer?” E eles lhe ofereceram um pedaço de peixe assado. E pegando aquele pedaço de peixe o comeu na presença de todos. Jesus esclarece as Escrituras. Em seguida, Jesus lhes explicou: “São estas as palavras que Eu vos ensinei quando ainda estava entre vós: Era necessário que se cumprisse tudo o que a meu respeito está escrito na Lei de Moisés, nos Profetas e nos Salmos!” Então, se lhes abriu o entendimento para que pudessem compreender as Escrituras (Lucas 24:36-45 -KJA).
O texto é muito claro. Como relata o médico e historiador Lucas, Jesus possui ressuscitou em carne e osso. Foi desta maneira que ele foi assunto aos céus, significa que neste exato momento Jesus está em algum lugar, que ainda não temos acesso, presente através de um corpo físico glorificado. Esta é a base do evangelho, que Jesus é o Cristo, o Filho do Deus vivo (Cf. Mt 16:15-8).
Jesus Cristo, nosso Senhor
Logo após apresentar aos romanos uma prova empírica da divindade de Cristo, a ressurreição, Paulo afirma: "Jesus Cristo, nosso Senhor [kurios]" (Cf. Rm 1:4b). Sem dúvida alguma, estes dizeres eram muito significativos para aquele contexto. A palavra grega traduzida por Senhor é kurios, que significa chefe supremo e era o título utilizado apenas pelos imperadores romanos. Ao comunicar aos gentios o senhorio de Cristo sobre todas as coisas, Paulo utilizou propositalmente um termo muito significativo para eles.
Segundo Timothy Keller:
Desde os primeiros dias, a confissão dos cristãos era Christos Kurios - "Jesus é o Senhor", em um contexto histórico em que era obrigatório dizer Kaiser Kurios, "César é o Senhor", esta confissão significava que Jesus era o poder supremo. Ele não era apenas um professor, profeta, ou mesmo um divino ser angelical, mas, como um hino cristão primitivo coloca-o, ele tinha "o nome acima de todo nome" (Keller, 2008, p. 228–231).
Para se ter uma ideia do impacto desta revelação, basta olharmos para os acontecimentos que tomaram lugar alguns anos depois que Paulo escreve esta carta. Quando o império começa a perseguir duramente os cristãos, muitos eram jogados na arena para serem devorados por leões ou mortos por gladiadores, para serem libertos bastava que falassem Kaiser Kurios - César é o Senhor, mas eles escolhiam dizer: Jesus Kristos Kurios, de acordo com Johan Samson, eles pagavam por este privilégio com seu próprio sangue (Samson, 2009).
Obediência por fé
Sem dúvida alguma a ciência ocupa um lugar proeminente nos dias de hoje. Em meio a promessas de um futuro melhor, a ciência apresenta-se praticamente como uma entidade com vida própria e autoridade acima de qualquer suspeita. Segundo Caldas:
[…] nos dois últimos séculos, especialmente, a ciência é situada como essa entidade ultravital em que residem todas as apostas, anseios e esperanças; ela detém um valor do mesmo nível que antes usufruía a beatitude e suas realizações substantivam promessas que se assemelham a uma profecia religiosa (Caldas, 1994, p. 87)
Neste contexto, falaciosamente muitos acreditam que fé e razão constituem faculdades distintas. No contexto de uma sociedade secularizada como a ocidental, fé e razão são compartimentalizadas entre vida privada e pública, respectivamente. Assim, se a base da fé é a experiência subjetiva, a razão deve reinar soberana por meio da lógica ou da plausibilidade como fundamentação para praticamente todas as dimensões da vida. Todavia, este tipo de pensamento baseia-se apenas na ignorância acerca do verdadeiro significado bíblico e histórico da fé cristã.
Ora, se considerarmos que Jesus é Senhor de nossa fé e de nossa razão perceberemos que tal separação não faz muito sentido, Agostinho percebeu isso e com muita propriedade argumentou em sua obra A Trindade, escrita por volta de 400 a 416 d.C.:
A fé busca, o entendimento encontra; por isso diz o profeta: Se não crerdes, não entendereis (Is 7.9). Doutro lado, o entendimento prossegue buscando aquele que a fé encontrou, pois, Deus olha do céu para os filhos dos homens, como é cantado no salmo sagrado: para ver se há alguém que tenha inteligência e busque a Deus (Sl 13.2). Logo, é para isto que o homem deve ser inteligente: para buscar a Deus (AGOSTINHO, 1994, p.481, grifo nosso).
Isto significa que raciocinamos a partir das nossas crenças, ou seja, elas fundamentam nosso raciocínio, porém a nossa fé consegue ir para além da nossa razão, que, por sua vez, tenta acompanha-la. Segundo o filósofo americano Roy Clouser, a “[...] fé não é uma faculdade distinta da mente, separada da faculdade da razão, mas uma parte integral da razão” (Clouser, 2005, p. 98 , tradução nossa). Muitos cristãos alegam que não creem em Deus e, portanto, não possuem crenças religiosas, mas se esquecem de que não crer também é crença. Ora, se alguém não crê em Deus esta é sua fé, mesmo que tente se apoiar em argumentações científicas ou filosóficas.
Nossa obediência, portanto, não é cega! Não baseia-se em desejos intensos, emoções, idiossincrasias. Ainda que a fé possa tocar nossas emoções e alimentar nossa subjetividade, de forma alguma ela restringe-se a isso. Obecemos porque cremos e o fazemos porque fundamentamo-nos em convicções plenas acerca da existência, soberania e poder de Deus, que se revela pessoalmente aos crentes através das Escrituras.
Apostolado Para as Nações
O apostolado de Paulo é voltado especialmente para os gentios. A palavra grega traduzida por gentios, em algumas versões, é a palavra ethnos (G1484 - ἔθνος), que de acordo com a referência de Thayer significa tribo, nação, grupos de pessoas. É importante salientar, que o termo nações, dentro daquele contexto histórico, não possuia a mesma conotação que os dias atuais, que utilizamos para ao nos referirmos a agrupamentos políticos ou regiões geográficas específicas. Esta questão fica mais clara ao analisarmos a palavra grega ethó, que é a raiz da palavra ethnos. Ethó significa uso, costume. Isto significa que, ao utilizar o termo ethnos, Paulo estava interessado em alcançar todos os grupos étnicos, grupos de pessoas identificadas por costumes distintos e não apenas moradores de regiões específicas ou sobre regimes políticos determinados. Seu objetivo consistia em realmente cumprir o mandamento de Jesus de ir a todas as nações (panta ta ethne) e ensinar acerca de todas as coisas.
Chamados para pertecer a Cristo
Paulo explica que fomos chamados para pertencer a Cristo. Para compreendermos melhor o significado e as implicações deste convite especial, basta observarmos a palavra klētos (κλητός), traduzida para o português como chamados, convidados. De acordo com CARPENTER, BAKER e ZODHIATES (2008), a palavra klētos (ref. 2822) é originalmente utilizada para referir-se àqueles que foram convidados para um banquete, na septuaginta - tradução da Bíblia para o grego - o termo é encontrado em 1 Reis 1:41,49 e nos evangelhos é utilizado apenas em Mateus 20:16 e 22:14.
Na primeira passagem, encontramos o registro de uma parábola contada por Jesus. Na ocasião ele diz que trabalhadores foram contratados por um proprietário e enviados para trabalhar em sua vinha. Observe o texto em seu contexto: "Portanto, o Reino dos céus é semelhante a um proprietário [oikodespotés] que saiu ao raiar do dia para contratar trabalhadores para a sua vinha. Depois de combinar com cada trabalhador o pagamento de um denário pelo dia, os enviou [apostelló] ao campo das videiras" (cf Mt 20:1 KJA). O termo oikodespotés significa dono de uma casa, propriedade. No sentido aplicado nesta parábola, observamos que este tipo de proprietário possui autoridade para enviar (apostelló) pessoas para uma missão, a um trabalho específico. Observe que Jesus estabelece um paralelo entre aqueles que são contratados para trabalhar em uma vinha e os que são chamados para realizar obras promotoras do Reino de Deus. A parabola explica que muitos foram contratados, logo pela manhã, para executarem um trabalho específico, outros foram arregimentados ao longo do dia em horários diferentes. Ao término do trabalho, todos receberam a mesma quantia, um denário. Com efeito, aqueles que trabalharam desde o início do dia reclamaram porque estavam recebendo a mesma quantia que os que foram chamados mais tarde, demonstrado, assim, que poderiam estar com inveja dos demais. Segundo Jesus, este proprietário agiu desta maneira porque era generoso, concedendo a todos os mesmos benefícios independentemente de seus esforços. E Jesus conclui a passagem dizendo; observe o uso da palavra ekletós: "[…] Portanto, os últimos serão primeiros, e os primeiros serão últimos. Pois muitos serão chamados [kletós], mas poucos escolhidos" (cf. Mt 20:16 KJA).
Na outra passagem do evangelho de Mateus, encontramos uma parábola que versa sobre um banquete de casamento. Nela Jesus conta que um rei preparou um banquete de núpcias para seu filho e enviou seus servos para chamar os convidados, mas estes, de diversas formas, rejeitaram o convite real. Indiginado o Rei ordena que aqueles convidados fossem executados, pois demonstraram ser indignos de participarem daquela festa, depois ele pede aos seus servos que convidem, então, todos que encontrarem nas ruas. Mais uma vez a parábola conclui dizendo: "Portanto, muitos são chamados [klétos], mas poucos, escolhidos!”
Com base nestas duas passagens, e respeitando o contexto da carta aos Romanos, podemos dizer que somos chamados para pertencermos a Cristo através da salvação que dEle recebemos gratuitamente. Tal convite, implica tanto a possibilidade de desfrutarmos do generoso banquete da salvação como um comissionamento para uma obra aqui na terra. Pois assim como Deus envia seu filho Jesus para realizar a perfeita obra da salvação, também somos enviados ao mundo para proclamarmos a mensagem da salvação, ou seja, para convidar outros para este banquete especial, e para demonstrarmos o Reino De Deus por meio de obras que glorifiquem o nome do Senhor. A relação, portanto, entre chamado e serviço é instrínseca, envolve privilégio e responsabilidade. É neste sentido que Paulo aplica o termo no decorrer da epistola.
4 É importante dizer que quando Paulo instrui escravos e Senhores da Igreja de Éfeso a amarem e respeitarem-se mutuamente, institui-se de fato uma relação de subserviência voluntária. Cai por terra, portanto, a noção de que Paulo poderia estar legitimando, ou menosprezando, instituições exploratórias e desumanas. O que Paulo reconhece, na verdade, é uma relação de autoridade baseada no amor (Cf. Mateus 8:9) - lembrando que o próprio Jesus, ao encarnar, assumiu para si forma de servo (Filipenses 2:7). Através de uma relação de amor entre senhor e servo, a relação com o trabalho adquire novo significado. Segundo o Bridfeway Bible Dictionary: "Ao encorajar escravos cristãos a trabalhar com responsabilidade e dignidade, o cristianismo ajudou a aumentar o status dos escravos. Eles não deveriam mais pensar de si mesmos como meras ferramentas de seus chefes (Cf. Cl 3:22; Tt 2:9). Eles poderiam usar suas posições como escravos para servir a Deus, mas se recebessem a oportunidade de serem libertos, eram encorajados a isso (Cf. 1Co 7:20-21). Paulo esperava que chefes cristãos dariam liberdade a seus escravos, mas ele não utiliza sua autoridade apostólica para forçá-los a isso (Fleming, 2004).
5 Em outros de seus escritos, Paulo lança mão de duas outras citações do dramaturgo grego Menandro: a) "As más companhias corrompem os bons costumes" (1Co 15.33), presente em sua comédia Thais; b) "Cretenses, sempre mentirosos, feras malignas, glutões preguiçosos" (Tt 1.12), onde ele utiliza um escritor cretense para exortar os próprios moradores de Creta (Zuck, 1998, p. 261).
Referências
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Clouser, R. A. (2005). The myth of religious neutrality: An essay on the hidden role of religious belief in theories (2nd ed). Notre Dame: University of Notre Dame Press.
Evans, C. A., Combes, I. A. h, & Gurtner, D. M. (2004). The Bible Knowledge Background Commentary: Acts-Philemon. Colorado Springs: David C Cook.
Fleming, D. (2004). Bridgeway: Bible Dictionary (e-book). Australia: Bridgeway Publications.
Irmão, C. (1866). Archivo pittoresco: semanario illustrado (Vol. IX). Lisboa: Tip. de Castro Irmao.
Jeffers, J. S. (1991). Conflict at Rome: social order and hierarchy in early Christianity (e-book). Minneapolis: Fortress Press.
Keller, T. (2008). Count the Cost -- Become a Christian. Recuperado 11 de fevereiro de 2015, de http://www.AllAboutGOD.com/count-the-cost-become-a-christian-faq.htm
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Samson, J. (2009). Reformation Theology: Jesus Kristus Kurios. Recuperado 11 de fevereiro de 2015, de http://www.reformationtheology.com/2011/07/jesus_kristus_kurios.php
Stott, J. R. W. (2000). A mensagem de romanos. São Paulo: ABU Editora.
Zuck, R. B. (1998). Teaching as Paul taught. Grand Rapids, Mich: Baker Books.